domingo, 25 de outubro de 2009

Baile da Fortuna




Pêndula bateia na parede
Hoje morrendo de sede
Não passa de um enfeite banal

Já foi de seu dono, tempos dantes
Alvo de olhares delirantes
Tendo a sorte sua sócia imparcial

E a bateia nas mãos de seu dono
Bailava em seu próprio contorno
Num infinito e incansável ritual

O cascalho ciscado e lavado
Tantas vezes deixava apartados
Garimpeiro, esperança e ideal

E mais um dia se escoava
Com a dançarina bateia que bailava
Aos acordes da orquestra irreal

Apinhando a tantos, outro dia em vão
Desalentava-se ante impiedosa ilusão
Prevalecendo a fragilidade de mortal

Para na aurora seguinte, refeito
Rasgar outra vez outra vez o garimpo no peito
Numa ânsia indomável de se realizar

E quiçá..., como diz o destino que espreita
E fez feliz daquele que feita
Um teimoso garimpeiro chorar

Chorar de emoção extasiante
Exibindo na palma da mão enorme diamante
Para nunca mais garimpar

E hoje, varanda, espreguiçando na rede
Nem sequer observa na parede...
A bateia no prego, ao vento ainda bailar


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